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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Capítulo Doze


Quando abri os olhos na sexta-feira de manhã, sabia que alguma coisa tinha dado errado. Mas levei um bom tempo para juntar as peças e lembrar o desastre da noite anterior. Lembrei que beijara Lua.


Sorri e bati minha cabeça de leve na parede acima da cabeceira de minha cama. Experimentei um frio na barriga ao perceber que tinha quebrado a principal regra de uma amizade platônica. Agora Lua me odiava e eu não podia fazer nada sobre isso.

Fiquei relembrando várias vezes o acontecido. O que será que me tinha feito beijá-la? Teriam sido as brincadeiras na neve? A lareira? Balancei a cabeça. Os motivos já não importavam muito — além de dolorosos, eram irrelevantes. Eu tinha estragado completamente uma coisa muito legal, e nenhuma racionalização poderia mudar esse fato.

E ainda tinha a questão de Pérola. Falando friamente, eu a tinha enganado. Mesmo considerando que o beijo na Lua acontecera durante um momento de insanidade temporária, não havia como negar que tinha acontecido, ainda que Pérola nunca viesse a descobrir.

Outra questão me perturbava. Se Pérola descobrisse sobre o beijo, o que ela faria? Certamente seria ferida em seu orgulho. Mas ficaria mesmo magoada, ou apenas aborrecida? Ela dissera que telefonaria de Nova York, mas até aquele momento não tinha dado notícia. Teria ido visitar seu antigo namorado?

O pensamento de que ela estivesse beijando um outro cara me pareceu estranhamente confortador. Embora a imagem da minha namorada nos braços de algum nova-iorquino gosmento não fosse das melhores, a imagem aliviava minha sensação de culpa. Pérola e eu éramos jovens, e era compreensível que nós dois cometêssemos erros. Certo? Certo!

Resolvida esta questão, meus pensamentos passaram de Pérola para Lua. Mas antes mesmo que pudesse construir uma desculpa decente, mamãe bateu a minha porta.

— Arthur? Está acordado? — ela perguntou, abrindo a porta só um tantinho.

— Estou, infelizmente.

Rolei na cama e me deitei de bruços, esperando que ela percebesse que eu não estava a fim de papo.

— Lua está lá embaixo, querido.

— Está? — Sentei na cama rapidinho e empurrei meu acolchoado para o pé da cama. — Me dê dois minutos, mãe, e depois diga para ela subir.

Pulei em um pé só pelo quarto, tentando vestir a calça e pentear o cabelo ao mesmo tempo. A porta se abriu enquanto estava abotoando a camisa, e Lua enfiou a cabeça para dentro do quarto.

— Será que você teria um tempo para a sua antiga melhor amiga? — ela perguntou.

Na hora, a sensação ruim que experimentava desde que tinha acordado desapareceu. A voz de Lua soara amistosa, e tudo iria ficar bem.

— Só se você retirar o "antiga" da pergunta — respondi, abrindo toda a porta.

— Trouxe uma oferta de paz — declarou Lua, entrando no quarto. Ela me deu uma caixa de rosquinhas e sentou-se em uma velha poltrona que tenho no quarto.

— Sabe, Lua, acordei esta manhã louco para comer umas rosquinhas. E então você apareceu com elas.

— Conheço você muito bem, Arthur.

Ela colocou as pernas no braço da poltrona e apoiou a cabeça na mão.

— Não consegui dormir direito ontem à noite.

— Também não. Me senti péssimo.

Peguei uma rosquinha e passei a caixa a Lua. Ela se serviu de uma e mordeu metade de uma vez só.

— Não podemos deixar isso estragar nossa amizade. Nossas reações foram exageradas.

— Concordo plenamente — respondi.

Pensando bem, a coisa toda não parecia tão grave. Nós nos beijamos. Um beijo não é o fim do mundo. Além disso, somos jovens normais e ativos. Jovens se beijam o tempo todo. Não era como se tivéssemos cometido um assassinato ou coisa assim.

Lua mastigou pensativa por um instante.

— Quero dizer, se a gente chegou a gostar realmente do beijo, então acho que temos mesmo um problema.

Concordei, imaginando aonde ela queria chegar com esse raciocínio. Sempre podia perceber quando Lua estava armando uma de suas teorias.

— Mas, analisando tudo que aconteceu racionalmente, aquele nosso beijo foi quase uma coisa boa.

Ela parou por um momento, esperando minha reação. Como não disse nada, continuou:

— Aqui estamos nós, dois amigos de sexos opostos. É natural que experimentemos uma certa dose de... ahh, curiosidade um pelo outro.

— Curiosidade — repeti, apenas para que ela soubesse que estava prestando atenção.

— Sim. E agora que já colocamos o nosso beijo fora do caminho, podemos deixar essa história toda desaparecer no passado. Sabemos que nunca mais queremos nos beijar e não vamos fazê-lo. Ponto final.

Estava um pouco aborrecido por ela ter se desfeito de meu beijo assim tão fácil. Para mim, a experiência tinha sido como ser mandado para o espaço montado no lombo de um foguete. Quando finalmente me dera conta do que tinha se passado, levara uns dez segundos para sentir os pés no chão novamente! Não poderia negar que ela me excitava, a um nível perigoso.

Mas não estava disposto a discutir com ela. Naquela altura da conversa concordaria até se ela dissesse que a Terra era quadrada. Só queria que voltássemos a nossa amizade e prosseguir dali.

— Ponto final — confirmei.

Lua estendeu a mão e a apertei com firmeza.

— Bem, estou contente de que tenhamos resolvido isso — observou ela, como se a discussão fosse sobre quem lavaria os pratos do jantar.

Sorri para ela.

— Eu também, Lua. Estou certo de que vamos dormir bem melhor esta noite.

— Claro. Com certeza.

— Com certeza.

Inclinei-me sobre meu travesseiro e me senti como se tivesse renascido. Afinal de contas, meu mundo não tinha desmoronado, eu não poderia estar mais agradecido.

Sentia meu estômago revirando enquanto dirigia para a casa de Pérola no domingo à tarde. Ela me telefonara assim que tinha chegado de Nova York naquela tarde, e agora eu estava apenas a alguns minutos de rever aquele rostinho lindo. Queria ouvir sua voz, especialmente porque sentia como se fôssemos ter um novo começo. Desde o caso do beijo em Lua tinha percebido que talvez não estivesse dando tanta atenção a Pérola quanto ela merecia. Claro que devia ter projetado esses sentimentos em Lua, que por sua vez devia ter projetado os sentimentos dela por Chay em mim, e no final dera no que dera.

Domingo a temperatura ainda estava abaixo de zero. Então, quando Pérola dissera que queria ir patinar no gelo no parque Hamilton, achei uma boa idéia. Já imaginava nós dois de mãos dadas patinando em círculos no lago. Com exceção de algumas crianças pelo gelo, estaríamos em nosso mundinho particular. Depois iríamos para a casa dela beber chocolate quente (na verdade, cidra quente seria melhor) e ficar nos beijando até tarde da noite. Mal podia esperar por aquilo.

Quando cheguei, Pérola abriu a porta. Antes que eu pudesse dar um beijo ou um alô, ela se virou, ainda na entrada da casa.

— Olha! O que você acha da minha roupa nova para patinar? — perguntou.

— Uau! — Não pude pensar em nada melhor como resposta.

Pérola vestia uma roupa rosa para patinação. O material devia ser cem por cento malha elástica, porque estava colado ao corpo como uma segunda pele. Ela usava uma bermuda cor da pele e segurava em uma das mãos os patins imaculadamente brancos. Para ser honesto, todo mundo que conheço patina de jeans e blusa de lã e nunca me ocorreria que ela se vestiria como uma bailarina de patinação no gelo. Mas não seria eu quem iria reclamar. Ela parecia uma atleta olímpica transformada em supermodelo.

— Vamos nessa. Todo mundo vai estar lá.

Ela apanhou o casaco e fomos embora.

Não entendi o que ela quisera dizer com "todo mundo", mas ainda estava meio sem fala pelo efeito de sua roupa. Se tentasse falar, provavelmente minha voz pareceria um guincho.

Dentro do carro, puxei Pérola para mais perto. Beijá-la apagaria a horrível noite do incidente com Lua. Assim que meus lábios tocassem os dela, o Dia de Ação de Graças seria apenas um sonho ruim. Pelo menos era o que eu esperava.

Senti Pérola viva e aconchegante em meus braços, e o tecido macio da sua roupa parecia seda. Beijei seus lábios, seu rosto e sua testa. Não me senti voando pelo espaço mas isso me excitava. Beijei mais forte ainda, tentando esquecer o beijo em Lua. Depois de uns minutos sem fôlego, decidi que a explosão que experimentara com Lua deveria ter sido porque sentia falta da minha namorada e ficara preocupado de que ela estivesse com outro cara em Nova York. Estava apenas liberando as emoções que surgiram. Existem muitas explicações psicológicas. A mente é muito poderosa... não é o que todo mundo vive dizendo? Pérola ajeitou o meu cabelo, sorrindo.

— Estivemos só quatro dias separados e você parece um cara que atravessou o deserto todo sem nem um cantil.

Beijei-a de novo.

— É assim que me sinto.

— Bem, fico feliz de saber que você gosta de mim. Não é toda garota que revê seu ex-namorado em Nova York e resiste a toda a conversa para voltar a ficar junto.

Dei uma olhadela em Pérola maravilhado pela capacidade que as mulheres têm de dizer a coisa exata para que um cara se sinta um completo idiota. Fiquei contente de que o sol estivesse desaparecendo rápido, porque tinha certeza de que a culpa me faria ficar com o rosto vermelho.

— Melhor a gente ir — disse.

O estacionamento do parque Hamilton já estava com metade da lotação, e reconheci alguns dos carros. De repente captei o que ela quisera dizer com "todo mundo".

— A turma toda está aqui! — ela exclamou, contente, enquanto andávamos pelo meio do pessoal que circulava pelo lago.

— Você não me disse que quase o colégio inteiro estaria patinando aqui esta noite — falei, um pouco mais duro do que pretendia.

— E não é legal? Estou tão feliz em ver todo mundo. — Ela correu na minha frente, desaparecendo atrás da barraca de aluguel de patins.

Poucos segundos depois ouvi os gritinhos dela. Quando pude vê-la, estava abraçando Carrie Starks como se a garota fosse sua irmã que não via há muito tempo. Achei uma palhaçada. Mesmo Pérola gostando das líderes de torcida, Carrie Starks e Amanda Wright, penso que elas são superficiais e burrinhas, na melhor das hipóteses, e caluniadoras e manipuladoras, na pior delas. São do tipo de garotas que oferecem o rosto para os beijinhos de cumprimento, mas são muito impacientes para esperar serem beijadas e nos fazem acabar beijando apenas o ar.

Confiante, Carrie veio para o meu lado.

— Você não vai me dar um beijinho, Arthur? — perguntou ela chegando mais perto.

Preparei os lábios e me curvei. Como esperava, dei um beijo gostoso bem onde a bochecha deveria estar, mas foi inútil, pois beijei só o ar.

Pérola me arrastou pelo lago, enquanto eu tirava meus patins de hóquei de dentro da mochila. Vi Patrick Mayor, Bart Langley e Josh Nielson, e meus sonhos de uma tarde romântica se evaporaram. Minhas opiniões sobre Patrick não melhoraram desde a noite da festa que ele dera, quando vi Lua agarrada de um jeito quase indecente com Chay. E odiava Josh Nielson.

Josh sentira uma quedinha por Lua durante o segundo ano no colégio. Ela saiu com ele uma vez, detestou e nunca mais falou com ele de novo. O cara é um troglodita. Josh então começou a fazer crueldades contra ela na escola. Como ela não entrou na dele, Josh pichou as paredes do banheiro masculino com frases pouco agradáveis. Um dia eu o vi fazendo isso e saímos no braço, a única vez em que fiz isso na vida. Depois que o treinador veio nos separar, jurei que nunca mais socaria ninguém. No ano seguinte ele trocou de escola porque os pais se mudaram para outro bairro, e eu não o tinha mais visto. (A propósito, Lua nunca soube dessa briga.)

Amarrei meus patins rapidamente, dizendo a mim mesmo que, depois de um ano e meio, provavelmente Josh teria melhorado seu comportamento. Portanto, se fosse gentil com ele, não haveria motivo para cenas.

Peguei Pérola pela mão e circulamos pelo lago. Ignorando a presença de Josh, realmente estava começando a me divertir.

— Isto é tão romântico — disse Pérola, olhando para o céu estrelado e a lua cheia.

— E porque você está aqui — respondi, pegando suas duas mãos e girando em círculos.

Fiz uma parada rápida, como no hóquei, ao ver pelo canto do olho que Josh Nielson vinha em nossa direção. Ele tinha uma expressão de gozação no rosto e me esforcei para ficar relaxado e me mostrar amistoso.

— Oi, Josh — cumprimentei. — Conhece Pérola Faria?

Ele a olhou de cima a baixo e deu um sorriso seboso.

— Só de ouvir falar, até agora. Prazer em conhecê-la, Pérola.

Ela olhou para ele e sorriu, flertando.

— Como não vi você por aqui antes?

— Eu estou no colégio Rosedale. Mas gosto de manter contato com os velhos amigos.

Josh me olhou e pude ver pelo brilho em seus olhos que ele estava doidinho para me contar alguma coisa.

Não estava nem um pouco interessado fosse lá no que fosse que ele tivesse para me dizer. Tomei Pérola pela mão de novo.

— Vamos continuar de onde paramos? — perguntei a ela, me despedindo de Josh.

Nesse instante ele colocou a mão em meu ombro:

— Falando em velhos amigos, Mayor me disse que a nossa queridinha Lua Blanco está de caso com Chay Suede.

Percebi que Pérola fechara ligeiramente os olhos e não a culpei, Josh falou de um jeito que parecia que Lua e eu tínhamos alguma coisa. Mas não queria que isso ficasse estranho, e então decidi explicar a Pérola mais tarde.

— Sim, ela está apaixonada — respondi, satisfeito por ver o sorriso malicioso se transformar em uma cara de preocupado.

— Bem, você poderia dar um recado para ela — Josh disse.

— Sobre o quê?

Senti os músculos de minhas costas se contraírem, mas não deixei que ele percebesse que estava me atingindo.

— Eu vi Chay e Sophia Abrahão parecendo muito amiguinhos na pizzaria do Jon, numa noite dessas. Na verdade, eles estavam botando para quebrar, em uma mesa no canto.

Ele sorriu para mim e depois riu alto.

— É mentira — falei.

— Não estou nem aí se você acredita ou não, Aguiar. Mas você deveria dizer a sua amiga que Chay só a está usando até poder colocar as mãos de novo em Sophia.

Eu estava trêmulo de raiva e não pude me controlar ao dar um passo em direção a Nielson. Se era verdade ou não o que ele dizia, já não importava mais, queria mais era tirar aquele sorriso idiota da cara dele.

— Isso deve ser ciúmes porque Lua não quis sair com você, seu pateta — falei com raiva.

— Lua é uma panaca — Josh contra-atacou. — Pode perguntar a qualquer um.

Então Pérola resolveu entrar na discussão.

— Ele tem razão, Arthur. Todo mundo sabe que Lua é assim, tipo... estranha.

— Obrigado pela sua opinião, Pérola. Mas isso é entre Josh e eu.

— Quer sair no braço, Aguiar? — provocou ele, chegando o rosto perto do meu.

— Você não vale isso — respondi.

Percebi que Patrick e Bart tinham vindo para perto e nos observavam com curiosidade.

Quando olhei para o outro lado, Josh aproveitou a oportunidade. Vindo do nada, seu punho me acertou bem no queixo. Cai para trás, sentado, com um gemido.

— Lua é a garota mais legal que conheço — gritei. — Ela põe qualquer namoradinha sua no bolso.

Enquanto tentava me levantar, Josh pulou sobre mim. Mas antes que ele me batesse de novo, Patrick e Bart o agarraram. Eles o puxaram para o lado, segurando os seus braços.

— Acho que essa patinação acabou — disse Bart. Ele e Patrick levaram Josh para fora do lago.

Fiquei em pé sobre o gelo, ainda furioso. Quando tirei os olhos de Josh e fitei Pérola, ela estava me encarando com as mãos na cintura.

— Se você gosta tanto assim da Lua, talvez deva sair com ela — gritou. — Vocês dois merecem um ao outro.

Fiquei só olhando para ela, tão espantado que não podia nem falar. Como não disse nada, ela me sorriu gelado:

— Está tudo acabado entre nós.

Olhei ela patinando a distância e me senti como se fosse um balão que acabara de estourar. Quando ela chegou à beira do lago, desamarrou os patins e correu para o estacionamento.

— Josh, espere! — pude ouvi-la gritando.

Então não consegui mais vê-la. Enfiei a cabeça em um monte de neve de tão cansado que me sentia. Estava magoado por Pérola ter terminado comigo, mas no fundo sabia que nosso caso não tinha muito futuro. Ela sempre tivera mais coisas em comum com Carrie e Amanda do que eu quisera admitir, e agora podia ver até que ponto era superficial.

Um vento frio soprou em meus ouvidos, mas fora isso a noite estava silenciosa. Os feriados do Dia de Ação de Graças tinham terminado para mim, e também o relacionamento com Pérola Faria.

Olhei para a lagoa, agora deserta, e balancei a cabeça negativamente:

— Bem, acho que isso significa que perdi a aposta — disse em voz alta.

4 comentários:

  1. eu simplismente me apaixonei pela sua web muito linda a unica coisa erada é que ñ tem mais capitulos para eu ler =(

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  2. poista mais que eu estou loca por essa web... ela é a mais linda que eu ja li... bejokas <3<3<3<3

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  3. eu concordo com a maluh, to amando a sua web pena q ñ tem mais capitúlos para eu ler, mas estou esperando ansiosamente!!!!!

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  4. posta mais porfavor essa web é muitoooo boaaa!!!

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