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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Capítulo Seis


Terça-feira, 24 de outubro

Não consigo tirar a Lua e o Chay da cabeça. Nos últimos dias eu os tenho visto na paquera. Um par de vezes até os vi “ficando”, de mãos dadas. É esquisito ver Lua agindo de forma tão boba. Ela parece até outra pessoa, e não estou certo de que gosto disso. Quando disse a ela em setembro que deveria se apaixonar, não sabia que tudo aconteceria tão rápido.


O Chay é um cara bonitão, para quem gosta do tipo arrumadinho. E ele é muito popular na escola. Mas sua personalidade não é lá essas coisas. E me chamou a atenção o fato de que nunca vi Lua rindo quando está junto com ele. Quando está comigo, ela não pára de rir o tempo todo.

Pérola viajou com os pais no fim de semana, mas nós temos um encontro marcado para sábado. Se não sair como planejei, então vou ter problemas.

Sem dúvida eu estava começando a ficar nervoso sobre a possibilidade de perder a aposta. Se perdesse, iria parecer um perfeito idiota, e Lua nunca, nunca mais me deixaria esquecer isso. Também não podia me esquecer de que Micael iria pegar no meu pé pelos próximos cinqüenta anos. E então tínhamos o assunto complicado de se apaixonar. Eu já estava cansado de ficar sozinho ou tendo encontros com qualquer garota que aparecesse. Queria mais do que apenas uma boa diversão.

Estava pronto para levar a sério o papo com a Pérola. Já tinha pensado que ela era uma das mulheres mais bonitas que eu jamais havia conhecido. E era esperta. Sem mencionar que era sofisticada. E sexy. Está bem, ela era perfeita.

Não sei por que estava tão ansioso quando fui até a casa dela sábado à tarde. Será que era porque tinha encontrado uma garota com quem eu realmente me preocupava e agora sentia medo de ser rejeitado? Ou apenas estava sem jeito?

De qualquer forma, pela primeira vez limpei meu carro por fora e por dentro. No assento traseiro trazia uma cesta de piquenique com sanduíches, batatinhas, biscoitos de chocolate e refrigerantes (preparados por minha generosa mãe). Enquanto andava em direção à casa dos Faria, eu assobiava contente. No momento em que estivesse numa boa com Pérola, Lua estaria passando por um aperto.

Um garotinho loiro atendeu a porta. Estava vestindo uma camiseta do Power Rangers e parecia que estivera brincando na terra.

- Quem é você? - perguntou, medindo-me de alto a baixo.

- Arthur Aguiar, meu senhor. O cavalheiro é o dono da casa?

Usei minha melhor entonação de voz, como um vendedor, e ele riu. Abriu mais a porta e fez um sinal para que eu entrasse.

— Você é o namorado da minha irmã?

Ele me olhava como se eu fosse um bichinho de laboratório.

— Não sei. Melhor a gente perguntar para ela.

—Jason, está fazendo arte de novo? — Pérola falou descendo a escada.

Ela estava maravilhosa como sempre, em um jeans preto e uma blusa verde justa. Seu cabelo estava preso em um coque frouxo, mas várias mechas escapavam e formavam uma moldura para seu rosto.

— Não — respondeu Jason, dando um passo para trás.

— Cai fora. Volta para teu bolo de terra.

Jason correu até ela, deu uma pisada no seu pé e saiu correndo pelo corredor adentro.

— Gracinha de garoto. E a irmã mais velha é mais gracinha ainda.

Pérola deu um beijinho em minha bochecha.

— Ele é um monstrinho. Por que as crianças não nascem já crescidas?

Pelo jeito, ela não gostava muito de crianças.

— Acho que seria um pouco difícil para as mães.

— Falando nisso, é melhor a gente ir antes que minha mãe venha conhecer você. Em quem ela põe as garras, acaba por convencer que o melhor é sentar na cozinha e ficar tomando café com ela.

Pérola pegou uma jaqueta jeans desbotada e jogou sobre os ombros.

Enquanto eu dirigia, ela procurava alguma coisa para ouvir no rádio.

— Quantas estações boas tem nesta cidade? Essas aqui seriam cassadas em Manhattan.

— Tem uma boa, que toca jazz — disse eu, mudando a sintonia até localizar uma de que gostava.

— Tudo bem. Esta é legal — ela concordou. No sinal vermelho paramos e olhei para ela.

— Você não se importa de comer essas coisas de piquenique, né?

— Claro que não. Só não quero comer formiga. — Ela soltou o cinto de segurança e chegou mais perto de mim. — Onde estamos indo?

— Lago Gambler — respondi, orgulhoso.

Não costumo ter meus encontros lá, mas como Pérola era uma garota especial achei que merecia que eu o partilhasse com ela.

— Parece algum lugar que saiu de uma música de Kenny Rogers.

Dei uma risada. Lua tinha dito a mesma coisa na primeira vez que viemos ao lago juntos.

— É bonito, pode crer.

— Tão bonito quanto o Central Park?

— Bem, não tem charretes para passear. Mas garanto que não tem nem sombra de esgoto no lago.

Coloquei o braço em seu ombro. Aquele seria um grande dia.

— Bem, acho que vou me arriscar.

Entrei na estrada de terra que leva ao lago.

— E como você está indo no Elite Way?

— Tudo bem. Andei levando um papo com algumas líderes de torcida e acho que vou entrar para a equipe na temporada que vem. E, pelo que tenho visto sobre as lideranças estudantis, acho que tenho grandes chances de vir a ser presidente.

— Uau! Você é bastante ambiciosa.

Pérola nunca tinha me parecido uma pessoa politicamente ativa na escola.

— Eu gosto de deixar a minha marca. E pense também como será bom para o meu currículo quando for para a faculdade.

— Acho que agora sim você está falando como uma nova-iorquina.

Parei o carro no final da estrada ao lado do lago Gambler. Mesmo sendo um dia ensolarado e quente de outono, nós éramos os únicos presentes.

— Este lugar é mesmo bonito — comentou Pérola, como se sentisse aliviada por eu não a ter levado a algum depósito de lixo.

— Senhorita Pérola, apresento-lhe o lago Gambler.

Ela deu uma risada e desceu do carro. Peguei a cesta de piquenique e a manta, e corri para chegar junto dela.

— Que acolhedor — disse ela, enquanto eu caminhava bem atrás.

— É, sim. Apenas você, eu e o sol — respondi.

Pegamos a manta, cada um de um lado e a estendemos na grama.

Coloquei uma pedra em cada canto e me sentei. Inclinado e apoiando-me nos cotovelos, bati na grama ao meu lado:

— Madame, sua mesa está pronta.

Pérola ajoelhou-se ao meu lado e abriu a cesta.

— Oh, manteiga de amendoim e geléia.

— Eu traria caviar mas estava com a data vencida.

— Caviar seria um pouco de exagero para um lanche. Manteiga de amendoim e geléia está bom.

Ela começou a tirar a comida da cesta. Parecia bem à vontade e me senti como se fizéssemos piqueniques juntos desde muitos anos antes.

— Talvez devêssemos trazer Jason aqui um dia — disse eu. — Pense nos montes de incríveis tortas de lama que ele poderia fazer.

Pérola me olhou como se eu acabasse de propor que aprontássemos uma tremenda orgia.

— Acho que não — ela respondeu. — Não me parece que com ele aqui nós teríamos um grande encontro.

Abri uma latinha de refrigerante e enchi um copo plástico grande que tinha trazido.

— Que tal um brinde? — perguntei. Ela deu um sorriso largo.

— Contanto que não envolva o meu irmãozinho, eu topo. À nossa volta folhas vermelhas e amarelas caíam silenciosamente no chão. O lago estava azul-claro e o sol cintilava na água como se ela estivesse salpicada de diamantes. Só faltava aparecer um cara com um violino para o fundo musical, e o lago Gambler seria o lugar mais romântico da face da terra. Levantei meu copo.

— Ao lago Gambler e, nas palavras de John Denver, à luz do sol que banha seus ombros.

—A nós e a minha nova vida na América das raízes.

Pérola tocou seu copo no meu, olhando fixamente por de trás de seus longos cílios.
Coloquei meu copo de refrigerante na grama e me aproximei de Pérola. Nossos lábios se encontraram e eu a beijei suavemente. Na hora senti uma faísca me queimando por dentro. Os lábios dela tinham um sabor melhor do que parecia. Meu coração disparou quando me aproximei mais ainda sobre a manta. A medida que nossos beijos iam se tornando mais e mais demorados, eu desejava que Lua estivesse ali para ver. Ela ficaria de uma vez para trás no que se referia a nossa aposta. Então Pérola passou os dedos pelos meus cabelos e não consegui pensar em mais nada.

— Foi muito legal. Eu pedi a Pérola para vir até em casa — contei para o Micael. Acabáramos de terminar uma partida de basquete um contra um na quadra externa do colégio. O tempo tinha se tornado um tanto frio, mas eu estava suando e um pouco sem fôlego.

— E ela concordou?

Ele girou a bola na ponta do dedo indicador, um malabarismo que vinha treinando havia anos.

— Cara, claro que ela disse sim. Você conhece alguma mulher que conseguiu resistir ao meu charme?

— Eu me lembro de uma.

Micael lançou a bola na minha barriga, e me fez gemer.

— Quem?

Levantei do banco onde estávamos sentados e comecei a bater bola.

— Quem você acha? Lua.

— O quê?

Segurei a bola e fiquei imóvel.

— Lua Blanco. A garota que você vem enrolando há anos. Ela nunca entrou na sua de machão.

— Lua e eu somos amigos. Veja o que quer dizer isso no dicionário.

— Por que você não olha no dicionário o significado de dissimulação? Você não está com nada, cara.

— Pensei que o assunto era a Pérola.

Pegamos nossas mochilas e fomos andando em direção ao estacionamento.

— E era. Para falar a verdade, não entendo por que você anda correndo tanto atrás de uma namorada. Ainda faltam muitas semanas para o baile. Pode ser que você encontre alguém melhor.

Balancei a cabeça numa negativa. A total falta de sensibilidade do Micael nunca deixou de me surpreender. Mesmo sendo um rapaz, parecia que ele via as garotas como pragas.

— Veja, Micael. Tem umas coisas na vida que são realmente legais. Coisas como amor, satisfação e felicidade.

— E?

Paramos, e ele ficou me encarando.

— E o quê?

— E você pensa que vai ter isso tudo com Pérola? - Micael pegou a bola e girou sobre a ponta do dedo indicador de novo.

— Claro. Por que não?

Micael levantou os braços em rendição.

— Eu só não consigo entender como é que você pode amar uma garota que conheceu apenas há dois meses.

— Olha eu estou a fim de alguma coisa séria. Não vejo nada de errado nisso.

Comecei a andar de novo, e ele me seguiu.

— Bem eu gosto de experimentar bastante. Garotas são uma grande enxaqueca, se você quer saber.

— Eu não perguntei nada a você.

— Pois deveria. Pérola só está atrás de farra, cara. Ela não é o tipo de garota por quem você gostaria de se apaixonar.

— Vou considerar isso como um conselho. Agora, pode devolver minha bola?

— Toma — ele respondeu. — Pode acreditar, você está se metendo em encrenca.

Ele esticou o braço segurando a bola.

Dei um tranco no braço dele. O que ele sabia sobre mulheres?


É que não entro na conta desse Blog,ai quando entro,posto mais de UM amores mios,Hoje vou posta 3,okay?

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