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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011



Segunda Parte !!!






- Foi muito bom. Eu trabalhei em uma butique. E você?

Naquele momento soube que não havia futuro para mim e Debbie. Podem me chamar de maluco, mas gosto de uma conversa que não seja inteiramente irritante para mim. Pude sentir Micael a meu lado se segurando para não dar risada. Considerando a maturidade, ele está no mesmo nível de Barney, o vizinho de Fred Flinstone nos desenhos da TV.

- Foi bom. Bom. - Respondi olhando para o relógio. - Caramba! O primeiro sinal já vai bater, e o senhor Maughn é o nosso orientador.

- Eu entendo. Ele foi meu orientador no segundo ano. - ela então falou virando-se para ir embora - Você gostaria de sair um dia desses?

- Sim pode ser - Adiantou-se Micael respondendo por mim. Não foi legal, mas não consegui segurar um início de risada. Minha própria maturidade parece que me faltou àquela hora.

Debbie deu uma olhada meio estranha para nós e foi embora para o pátio.

Sentei-me em uma carteira no fundo da sala do Sr. Maughn e fiquei pensando. Eu tivera encontros com algumas garotas muito legais, mas também saíra com outras que ainda nem deveriam andar sozinhas pela rua, quanto mais ser minhas namoradas.

- Cara, não tem nenhuma garota que valha a pena nessa escola. - Reclamei com Micael.

Ele fez que não ligava encolhendo os ombros.

- Você lembra de quando estávamos no primeiro grau. Parecia que todo o segundo grau estava cheio de garotas bonitas e excitantes. Pelo jeito elas todas devem ter se formado há muito tempo.

- Arthur, eu acabei de fazer uma lista de vinte tremendas gatas, com as quais eu gostaria de sair e ter um encontro esse ano. Como é que você vem me dizer que aqui não tem garota bonita?

Eu balancei a cabeça negativamente.

- Estou falando de alguém especial. Alguma garota por quem eu pudesse me apaixonar.

- Apaixonar? AHHHH, dá um tempo cara... – Micael me disse isso, e voltou para a sua lista de nomes.

Dei uma olhada no caderno para ver a lista. À medida que ia lendo os nomes, ia fazendo mentalmente o cruzamento com a minha relação de garotas com quem já tivera um encontro. Quando cheguei ao número onze, meus olhos se arregalaram.

- Lua?

Pronunciei quase me engasgando.

- Claro. – Ele confirmou - Ela preenche todos os meus requisitos. - E desenhou um asterisco ao lado do nome de Lua.

Fiquei contemplando a lista fixamente. Ele tinha colocado o nome da Lua entre os de Amanda Wright e Carrie Starks. Inacreditável! Não que eu não ache a Lua atraente, inteligente e outras coisas mais. Só que o fato de ver o nome dela incluído em uma lista com outras intenções me incomodou. Era como se Micael não entendesse que a Lua era um caso especial. Ela não é do tipo que se coloca em uma lista feita só pelo tesão de sair com uma garota gostosa. Ela é uma pessoa.

- Você é um babaca. – desabafei - Faz idéia de como ela ficaria furiosa se soubesse disso? - Perguntei, pegando a folha de papel e sacudindo na frente de seu rosto.

Ele deu de ombros.

- Eu pessoalmente duvido que a Lua esteja preocupada em como eu gasto meu tempo durante as palestras de orientação, antes do início das aulas. – ele disse, olhando para mim e levantando as sobrancelhas. – Você é o único que parece se importar com isso, Aguiar.

- O que você quer dizer?

- Que você está com ciúmes. - Respondeu ele estalando os dedos.

- Você pirou. – respondi.

Há anos que eu tenho esse problema de as pessoas me provocarem sobre eu curtir uma paixão secreta pela Lua. Mas nunca nenhuma dessas idiotices me perturbou.

Naquele instante tocou o segundo sinal. Pulei para o meu lugar vendo o sr. Maughn tirar um maço de documentos de dentro da pasta. Ele pigarreou e começou seu discurso sobre os males de chegar atrasado e perambular pelos corredores. Depois de três anos de colégio esse era o tipo de conversa a que não era preciso prestar muita atenção. Se alguém já ouviu um desses discursos sobre o primeiro dia de aula, conhece todos.

Eu podia sentir meu rosto ficando vermelho enquanto pensava no que Micael tinha dito. Está certo que sempre fui bastante paternalista quando o assunto era a Lua. Mas isso porque eu sei como são os caras. E não quero que ninguém fique falando dela do mesmo jeito sacana e grosseiro como falam sobre as outras garotas.

Depois de alguns minutos, Maughn terminou seu discurso de boas-vindas ao colégio Elite Way. Então deu início a chamada dos alunos pela lista, outra coisa muito chata do início das aulas. Lá pelo meio da letra D a porta abriu com um estrondo. Pude perceber pelo rosto de Maughn que ele não gostou. Os professores sempre acreditam que, se conseguirem controlar os alunos no primeiro dia de aula, então poderão passar o resto do ano sem enfrentar maiores problemas. Claro que Maughn detestou ver seu "plano A" em relação a disciplina ir por água abaixo.

Virei a cabeça para olhar quem estava entrando. Ela deu alguns passos para dentro da sala e parou como se não estivesse certa de poder entrar. Carregava um monte de cadernos que pareciam prestes a cair a qualquer momento.

Seu cabelo escuro e comprido estava preso por um rabo de cavalo meio frouxo, mostrando o queixo muito bonito e os olhos arredondados. Vestia mini-saia e uma camiseta listrada de alças. Suspeitei profundamente, absorvendo os efeitos de olhar para aquela pernas bronzeadas. De repente a lista de Micael era a última de minhas preocupações.

-Nome?- Rosnou o Maughn.

A garota deu uma olhada pela classe como se estivesse procurando por amigos. Cruzamos nossos olhares. Por uma fração de segundos nós nos encaramos. Então eu sorri.

- Pérola Faria. - Respondeu ela, calma e indiferente ao fato de que toda a classe havia parado por causa dela. Acho que percebeu bem a situação e deve ter concluído que não havia motivo para se sentir intimidada.

Maughn correu o dedo pela lista.

- Faria, Faria... – murmurou para si mesmo - Sabe que horas são, senhorita Faria?

Ela deu uma olhada para o relógio na parede atrás da mesa do Sr.Maughn.

- Hmmm...nove e dezoito?

- Sim. – concordou ele - O horário de entrada e ás oito e cinqüenta e cinco. Qual é a sua desculpa?

Ela andou até a frente da classe e entregou a ele um papel verde.

- Eu estava na secretaria da escola por causa de minha transferência.

Maughn pareceu alvoroçado, a classe inteira permanecia quieta. Existe alguma coisa nas mulheres muito bonitas que leva as pessoas a parar de conversar e prestar atenção nelas.

- Então está certo. – concordou Maughn - Por que não se senta? Mais tarde eu passo as instruções que você perdeu.

Pérola armou um sorriso gracioso e deslizou para uma carteira na primeira fila. Ficou olhando direto para o Sr.Maughn como se ele fosse um grande sábio a revelar os segredos da vida. Praguejei comigo mesmo por ter escolhido um lugar tão no fundo da sala.

Maughn pegou sua lista e continuou de onde havia parado, mas com uma voz mais descontraída e amistosa. Acho que ele resolveu mudar para o "plano B": faça com que os garotos amem você e eles ficarão contentes por se comportar direitinho.
Eu estava tão concentrado analisando a nuca de Pérola que Maughn precisou chamar meu nome duas vezes. Pode ter sido minha imaginação, mas juraria que Pérola até se endireitou na cadeira quando pigarreei e respondi à chamada.

Micael enviou um bilhete curto e direto: "Garota linda à sua frente". Fiquei encabulado, rasguei a folha e coloquei os pedaços no bolso. Não permitiria que ele transformasse Pérola em apenas mais um nome de sua lista. Achei nela alguma coisa especial. E o friozinho no meu estômago avisava que ela seria minha. Logo.

Passei o resto da aula pensando muito. Como eu chegaria até ela? Deveria ser forte e agressivo? Ou calmo e educado? Como não sabia nada sobre a garota, era difícil planejar a aproximação. Não fazia a menor idéia da espécie de cara com quem ela namorava. Não sabia se era do tipo que gosta de música, de praticar esportes, ou romântica. E também não sabia se tinha algum namorado. Em silêncio, rezei para que ela tivesse sido transferida de um lugar bem longe, porque assim o namorado não seria um problema.

Não são muitas as pessoas que deixam passar a oportunidade de ter um bom relacionamento com alguém só por causa de um namorico à toa. É o que chamo de síndrome dos acampamentos de verão. A pessoa vai acampar, então conhece alguém, e todas as noites trocam beijos debaixo de uma árvore ou em uma canoa. Terminado o verão, os dois declaram seu amor um pelo outro e dizem que até o próximo acampamento do ano que vem o tempo vai passar voando. Depois de poucas cartas e um ou dois telefonemas meio embaraçosos, a coisa toda cai no esquecimento. No ano seguinte os dois vão achar que já estão muito velhos para o acampamento de verão. Sim, estou falando por experiência própria. No entanto, nunca me esqueci das noites estreladas que passei ao lado de Elaine Mason.

Minhas ruminações sobre Pérola e os romances desastrosos dos acampamentos de verão não estavam me levando a lugar algum. Então decidi voltar a ser eu mesmo – ou mais ou menos isso – e esperar que o melhor acontecesse. Esta é a tática que normalmente uso com as garotas. No segundo ano do colegial conheci uma garota na pista de atletismo, Gina Roslin, e então lhe disse que era praticamente avançado em salto de vara. Ela pediu uma demonstração, e quase quebrei o queixo quando cai de cara no colchão duro. A experiência (assim como algumas palavras sábias de minha amiga Lua) me deixou ciente de que as mulheres, em sua maioria, são muito espertas para conferir as informações. E, assim que descobrem uma jogada em falso, elas caem fora.

Quando o sinal tocou, continuei em minha carteira. Ainda estava indeciso sobre me aproximar ou não de Pérola. Então ouvi o Sr.Maughn pedir que ela ficasse um pouco mais para que ele pudesse repetir as normas sobre a rotina do colégio. Essa era a minha chance para fazer um primeiro contato simpático com ela.

Antes de seguir atrás de Micael, dei uma última olhada na direção dela. Ela sorriu e fez um movimento disfarçado, mexendo com os ombros. Senti um calafrio. Naquele exato momento tive a certeza de que ganharia a aposta com a Lua.

E era ela quem estava me esperando no saguão. Nós assistíamos a aula de física juntos no primeiro período.

- Sobre a nossa aposta... – Lua começou a falar.

Levantei a mão interrompendo a frase.

- Nem pense em desistir, Blanco. – cortei - Acabei de encontrar a garota dos meus sonhos. Você já pode ir preparando a tesoura e a água oxigenada.

Ela fez uma cara de surpresa.

- Ahh, eu não ia desistir. Só queria dizer que o nosso acordo deve ser colocado por escrito. E nem pense em inventar um jeito de se livrar.

- Que o melhor romance ganhe. – concordei.

Enquanto voltamos para a sala eu mal podia esperar até nossa próxima aula de orientação.

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