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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011


Na terça-feira de manhã eu me levantei com um pensamento na mente: "Mas que aposta estúpida eu fiz com a Lua". Nunca teria proposto a coisa toda se imaginasse que ela iria até o fim. Mas toda vez que penso que posso prever cada movimento da Lua, ela decide fazer algo inesperado. Daí agora eu tinha de me apaixonar.
 
Analisando assim superficialmente, pode-se pensar que a tarefa seria mais fácil para mim do que para ela. Afinal de contas, nunca tive problemas para arranjar encontros, sou confiante e nem um pouco tímido. A Lua, ao contrário, é muito fechada. Ela é uma das garotas mais bonitas da escola, senão a mais. Só que, quando alguém lhe diz isso, sua resposta é um "obrigada" e ela sai pensando que o cara está louco. Ela escapa pela tangente e fala sobre favorecimento, condescendência masculina e homens que pensam que podem fazer uma mulher se sentir bem dizendo a ela alguma coisa que é obviamente mentira. O que posso dizer? Minha melhor amiga tem um complexo.

Mas agora que ela estava decidida a se apaixonar, eu tinha certeza de que cumpriria o trato. Lua sempre batalha para conseguir seu objetivo. Eu havia lançado um desafio, e ela ficaria pensando sobre o caso até ter um plano. Diferente de mim, que não tenho nem idéia de como elaborar um.

A Lua provavelmente procuraria em sua sala de aula e, batendo os olhos em algum panaca, se apaixonaria por ele. Enquanto isso, eu estaria empacado no banco traseiro do meu carro, lugar predileto para ela me imaginar com as garotas, com alguém muito legal, mas que na verdade não se importaria se eu estivesse vivo ou morto. E, para coroar isso tudo, a palavra "perdedor" estaria gravada em meu corte de cabelo esquisito.

Enquanto andava na escola, naquela manhã ensolarada de terça-feira, eu procurava Lua no pátio. Quem poderia saber? Talvez ela tivesse acordado recusando a coisa toda também. Se fosse assim, eu concordaria de imediato, e ela nunca precisaria ficar sabendo que minha confiança tinha sido abalada. Mas, por azar, ela não estava lá...

Ela provavelmente estaria fazendo um cronograma para o seu primeiro encontro, o seu primeiro beijo e o primeiro "Eu te amo".

E, conhecendo a Lua, sabia que ela ia adiar o "Eu te amo" até momentos antes de entrar no salão do Baile de Verão com seu amado. Ela tem uma queda por cenas dramáticas.

Eu tinha começado a subir o quarto andar, contando os degraus dos lances de escada, a caminho de minha nova sala, quando Micael Borges, meu melhor amigo depois da Lua, se aproximou. Eu não o via fazia bastante tempo, já que faltei a nosso passeio de barco.

- Oi Arthur. Achou algum anjo na fazenda?

- Não, mas encontrei um pão-duro, que é o meu avô. Ele me pagou cem pratas. Depois de eu ter dado um duro danado o mês inteiro.

- Bem vindo ao mundo real. Por isso é que trabalho para o meu pai.

O Senhor Borges é advogado, e todas as férias Micael trabalha no escritório dele. Passa a maior parte do tempo tirando cópias e enviando mensagens por fax. Se estivesse no lugar dele, eu ficaria doido.

Chegamos ao último andar. Com uma certa satisfação, percebi que Micael estava bufando e sem muito fôlego. Meses dentro de um escritório debaixo de luz fluorescente e ar condicionado não deixam ninguém com muito pique.

- Não olhe agora. Debbie Jackson a sua direita.

Disse Micael me cutucando.

Suspirei. Debbie tinha sido minha namorada por um mês durante o outono passado. Gostei bastante dela no começo, mas depois de certo tempo ela estava me deixando doente. O jeito dela de falar... parecia que estava sempre perguntando alguma coisa. Mas quando fazia uma pergunta o tom de voz soava como uma afirmação. Eu me sentia num daqueles jogos de programa de televisão com perguntas e respostas.

Ainda pensei em me agachar atrás de um armário, mas já tinha sido visto.

- Oi, Arthur? - Ela falou, me beijando no rosto. Percebi que estava mais bonita do que no ano passado. Tinha cortado curto o cabelo loiro, e sua franja caía sobre os olhos de um jeito bem legal.

- Oi, Debbie. Como passou as férias?

Pensei que poderia estar errado sobre Debbie. Talvez ela fosse meu verdadeiro amor, e eu tivesse me enganado por sua forma de falar. Talvez não tivesse percebido isso antes.

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